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Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?¹

O desfile das Escolas de Samba começou! O resultado de um ano inteiro de trabalho exibido em 75 minutos. A torcida é para que dê tudo certo. Alguém já disse que o carnaval é o momento em que gerações rompem com os valores e regras postas, mas também é um momento de protesto, denúncia, reflexão e apresentação ou fortalecimento de lutas e causas sociais.

Neste Carnaval de 2018 o Brasil e o mundo ‘descobriu’ o Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti que apresentou o samba enredo Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão? Através de seu samba enredo a Escola de Samba apresentou a luta contra a escravidão, a denúncia contra o racismo, a discriminação e o preconceito racial. Ainda, denunciou o golpe. O desfile foi arrebatador!
A letra do samba enredo, os personagens e as alegorias exibidas durante o desfile nos fazem lembrar a escravidão, período da história do Brasil que perdurou por quase 400 anos. Além disso, mostrou que a assinatura do decreto da abolição não foi suficiente para extirpar a escravidão da sociedade brasileira e tratar a população negra com a dignidade, cidadania, justiça e o respeito devidos.
As consequências do longo período da escravidão persistem 130 anos depois, e se manifestam através do racismo, da discriminação, do preconceito, da desigualdade e da exclusão social. 
Os diversos tipos de quilombos, chamados de sentinela da libertação continuam sendo forjados nas lutas do povo negro. Um exemplo é a legislação, importante ferramenta no enfrentamento do racismo e na promoção da igualdade racial. Podemos citar a Lei Afonso Arinos, de 1950, a Constituição Federal, de 1988, a Lei 7.716/89, (denominada Lei Caó, em homenagem ao advogado Carlos Alberto de Oliveira, que morreu recentemente), a Lei 10.639 que obriga o ensino da história da África e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio, nas escolas públicas e particulares, a Lei de Cotas nas Universidades, são pequenos símbolos que representam a luta contra o racismo, a discriminação, o preconceito e a exclusão racial e social que se fundamentam na cruel, perversa e longa escravidão.

Por fim, cumpre enfatizar que os trabalhos desenvolvidos pelo UNIAFRO – Política de Promoção da Igualdade Racial na Escola, pelo Observatório da Discriminação e demais organismos de promoção de igualdade racial corroboram para responder a pergunta do Paraiso da Tuiuti: “Meu Deus, Meu Deus, a escravidão não está extinta!” A luta por liberdade, dignidade, respeito, inclusão e direitos continua. Sigamos...
Fotos:
Fonte: Ewerton Pereira

Fonte: Ewerton Pereira

Fonte: (AP)

Fonte: Ewerton Pereira

Fonte: Ewerton Pereira

Fonte: Ewerton Pereira

Fonte: (EFE)

Fonte: (AFP)

Fonte: (REUTERS)

Desfile da Paraiso do Tuiuti na Sapucai:





[1] Título do Samba Enredo 2018 G.R.E.S Paraíso do Tuiuti

Sobre a autora:

Lúcia Ribeiro é Militante do Movimento Negro. Advogada, graduada em Direito pela Uninorte, professora universitária, é especialista em Direito Penal e possui mestrado em Direito, Estado e Constituição  pela Universidade de Brasília -UnB. 

Comentários

  1. Lind0 momento de reflexão! A resposta para a grande pergunta feita, pela escola de samba, pode ser vista todos os dias na nossa sociedade brasileira. NÃO, a escravidão não acabou!

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